Sunday, March 9, 2008

O fundo

Toquei lá confesso-vos e foi mau muito mau! nunca mais falo do que não conheço nunca mais opino sobre situações que desconheço porque só quem passa sente e só quem sente conhece a dor.


Aborto retido, foi experiência que tive de viver durante 3 semanas...mas que finalmente ontem acabou! confesso-vos que nunca tinha conhecido um fundo tão escuro, tão insuportável, tão angustiante e tão solitário como este. Heronia ou não tudo aconteceu no dia da mulher; no dia que se exalta as qulidades, as pontencialidades, as excepcionais vantagens de ser mulher; confesso-vos que quando estava deitada naquela cama de hospital e as lágrimas corriam serenamente o meu rosto me questionei porque eu? e porquê ser mulher?


Para quem não sabe um aborto retido acontece quando o organismo não consegue expelir (por diversas razões) o feto que já se encontra sem vida; fiz tudo o que me mandaram e tentei manter a minha sanidade mental dentro do possivel; tentei esquecer para não passar a minha tristeza e a minha dor aos que me rodeavam; sei que também sofriam e isso era algo que eu não queria; pelo menos tentei minimizar; não é facil e confesso-vos que nunca mais falo do que não conheço.. nunca mais!


Sexta feira a minha médica telefonou-me e disse-me o que eu já à muito esperava! "vamos operar porque a natureza não está a funcionar"! e onde fica a parte psicológica no meio disto tudo? essa foi um pouco esquecida no sentido de garantir todo este processo o mais natural possivel. Acontece que essa parte é tão essencial como a parte fisica ou até mais importante porque dela depende a nossa vida...sexta feira não aguentei mais e pedi por favor que me acabassem com este sofrimento! ainda assim aguentei 3 semanas.... a acordar todos os dias e a deitar-me todos os dias com um pequenito ser sem vida dentro de mim e a pensar ...se calhar é hoje! e não era...


não sou nada femininista mas tenho de reconhecer hoje que ser mulher e sem duvida uma benção e ao mesmo tempo uma luta dificil em direcção ao reconhecimento á valorização; homens blogistas que lêem o meu blog estimem-nas, mimem-nas, dêem-lhes a vossa vida porque elas dão a vida delas por novas vidas ou até mesmo pelas vossas...


Dei entrada no hospital devo dizer que atenção não me faltou estive sempre com pessoas extraordinárias que em nenhum momento me perderam de vista...apesar de eu querer estar sozinha!


Ali fiquei, naquele quarto e naquela cama de hospital à espera que aquele momento chegasse mas heronia das heronias o colo do utero na abriu tive de ser submetida a nova carga de medicação;esperei a noite toda e já sem esperança ouvi alguém dizer "é agora" pensei que não fosse comigo!


queria muito que aquele momento chegasse mas quando chegou apoderou-se de mim um medo que me gelou o corpo e me rasgou o coração; acho que senti o medo de não conseguir ser capaz de recuperar da dor, do vazio, da solidão. Afinal de contas somos humanos...


Quando tudo acabou, e acordei da anestesia chorei e assim fiquei durante horas! pedi sossego e silencio e fui respeitada e assim fiquei o resto do meu dia comigo só comigo!


E agora o que ficou quando o ciclo fechou? tudo o resto...que só o tempo nos permitirá esquecer ou pelo menos habituar.


Uma coisa é certa para mim nunca mais falo do que desconheço do que não vivi do que não passei!





7 comments:

Lídia said...

... abracinho para ti. O impulso de vir ao de cima vai acontecer, aos poucos. Bj

Catarina Ferreira said...

Só te desejo muita força, sei que deves ter apesar do momento...

Um beijinho grande , enorme para ti*
cat

RUTE said...

Desconhecia que tal era possivel...

A nivel psicológico essa situação de reteres o feto sem vida deve de ser horrorosa. Se é que não tiveste dores incuidas.

Ó amiga... que periodo negro da tua vida é este! Coragem é o que te desejo.

O que não nos destroi torna-nos mais fortes. Falo por experiência própria e tu sabes o que já passei.

Agora que vazia estás, que não podes bater mais fundo do que o fundo, emerge, lentamente. Outras guerras estão à tua espera.

Beijinhos e muito carinho.

Sadeek said...

Menina...olha, não te posso dizer nada mais que mandar-te um beijo e um abracinho cá do meu canto...

Beijo enorme e muita força...

Anonymous said...

Já passou... foi uma dor sentida um bocadinho por cada um de nós que diariamente estávamos ao teu lado, na esperança de ver as coisas resolvidas em cada dia que passava e com uma crescente preocupação sobre a tua saúde física e dos danos morais que, esta difícil fase da tua vida, estava a deixar em ti e em nós. Na sexta quando foste embora, a troca de olhares dos que aqui ficaram eram de preocupação e tristeza. Hoje são de algum alívio e de um grande companheirismo, por sentir-mos a preocupação comum no bem estar de cada um de nós. Olhamos para a tua cadeira e o silêncio instala-se, e mais uma vez a cumplicidade dos olhares dizem-nos que temos de esperar que fiques boa! Nem necessitamos de falar para sabermos o que cada um sente. Quando estiveres recuperada vais voltar e aí vamos voltar a sorrir e ajudar-te a esquecer esta fase menos boa. Porque as pedras surgem no nosso caminho para serem ultrapassadas... e esta já ficou para trás, agora há que olhar em frente. Beijinhos de todos e coragem, AMIGA!

Anonymous said...

Também eu já passei por um aborto espontâneo. Doi saber que a medicina nos trata como se nada acontecesse. Como se de uma constipação se tratasse. "Isso é normal e comum. Não se preocupe que dentro de dias o corpo irá expelir o que resta ai dentro". Claro que sim, mas eu estava a sofrer.
Fui com o meu marido à consulta e, por mais que ele tentasse reconfortar-me, nunca saberia tamanha dor que eu sentia. Os homens têm outra capacidade de sentir essas coisas. Ele dizia-me "vais ver que da próxima corre bem! Se Deus achou que não seria o momento... vamos ter força!"
E as pessoas que me rodeavam diziam "Não penses nisso! Vais ver que engravidas num instante novamente". Não penso nisso?!? Como não posso pensar nisso? Dizem isso porque nunca passaram por isso...
Parece que sempre que comentavam e comentam qualquer coisa relacionada com isso, me estavam e estão a desafiar, do género "eu consigo e tu não".
Hoje penso nisso com mais conformismo. Aconteceu! E já que tinha de acontecer, antes nessa altura do que quando estivesse de 7 ou 8 meses. É o único conforto que consigo pensar.
Embora não tenha conseguido voltar a engravidar, e já lá vão uns anos, sinto um grande carinho por todas as mulheres que tentam e não conseguem engravidar.
E tens razão, nunca devemos "desdenhar" o que não sabemos. Um dia pode tocar-nos à porta e depois, podemos não ter quem nos confortar!
Acho bem que os amigos confortem e se preocupem, mas só quem passou por essa situação sabe que, o melhor é não dizerem nada. Nunca saberão a dor nem o sofrimento por isso, não vale a pena dizerem "Vai passar. Acontece. Ficas boa num instante"
Mas tenho de os compreender... pois espero que nunca o compreendam pela experiência!
Beijinho a ti e a todas as mães e pais que perderam o seu "projecto"
Deixo-te apenas, um "FORÇA". Goza o teu luto todo agora, que é o tempo certo para o fazeres. Não o leves contigo para o resto da tua vida.
FORÇA
MA

Anonymous said...

Não consigo imaginar o tamanho da tua dor e sofrimento...Penso que será a piores das experiências de uma mulher. A impotência deve ser terrível...
Desejo que recuperes rápido, que tenhas muita força, pois vais precisar muito dela.
Um beijo do tamanho do Universo e um abraço muito apertado da tua vizinha Borboleta:)