Wednesday, July 13, 2011

A carta de uma velhinha


Algures, 24 de Maio de 2011
Olá Menina,
Resolvi-te escrever! Demorei algum tempo a fazê-lo talvez por receio do que te havia de dizer ou medo; medo de não entenderes, medo de não aceitares de não sentires; mas hoje resolvi que o podia fazer de coração aberto porque ao leres esta carta a irias ler como eu a gostaria que lesses; com o coração.
És tudo aquilo que escolheste ser mas confesso que podes ser mais, viver mais usufruir mais! Perdes muito tempo preocupada com o agradar aos outros e esqueceste-te de ter agradar a ti! Minha querida parte das pessoas que te controlam, que te apontavam o dedo ou que te julgavam serão realmente importantes para ti? Tenho as minhas dúvidas…mas tenho medo que só percebas isso quando chegares à minha idade! Sim, porque quando chegares à minha idade poucos desses abutres cá estaram; ou morreram ou estão demasiado senis para se ocuparem de ti.
Não queria que chegasses a minha idade (a idade em que paramos e revisitamos o nosso passado com ternura) e sentisses que a tua vida foi feita de momentos de ausência de ti mesma; não faças isso, porque tu existes, és real e mereces ter. Não tenhas medo de agarrar aquilo que te dão todos os dias. A oportunidade de existires.
Queria menina, não tem mal nenhum ter, experimentar questionar, possuir, errar, usufruir, no fundo viver, porque isso é aquilo realmente nos enche e que nos faz sentir que vale a pena. Estou na recta final da minha vida mas estou cheia; cheia de paz, realização e alegria porque conheci e permiti-me conhecer aquilo que mais poderoso existe O AMOR UNIVERSAL.
Mas minha querida, não é fácil muito menos para ti porque sei que carregas nas costas o fardo do teu passado e o remorso da imperfeição e do incómodo. Muitas vezes te sentiste a mais e pouco merecedora daquilo que te davam. Muitas vezes gozaram e abusaram da tua existência; muitas vezes não ouviram as tuas lágrimas silenciosas nem os teus gritos mudos de angústia debaixo dos lençóis da cama durante a noite; mas eis a boa noticia: isso acabou esse ciclo fechou-se e por isso podes ESCOLHER.
Estou orgulhosa de ti porque pelo menos percebeste através dos teus filhos que podes mudar e estás a fazer um esforço tremendo para o fazer. Sei que tens medo de sofrer mas agora conheceste um amor maior pelo qual não te importas de sofrer: o amor da vida! Bendito Francisco e abençoada Madalena e todos os outros que hão-de vir, pela forma que despertaram e continuam a despertar a consciência da vossa mãe. Para ganhar o vosso sorriso e conquistar a vossa felicidade ela não se privará de nada.
menina, mas há uma coisa que tu tens de perceber o amor não é gratuito, viver de forma plena e cheia como eu aspiro que tu um dia viverás não se alcança com um bom ordenado, um bom cargo, ou um bom par de notas de euros. Ajuda mas não é tudo. Também não se alcança com e autoritarismo mania da superioridade que tu as vezes privilegias Tens de aceitar que valorização de tudo isto de que te falo só se alcança quando experienciamos a dor, a mágoa, o sofrimento, a raiva, a revolta, e a perda de uma forma consciente e humilde.
Não vale a pena fugires disso porque são esses momentos menos bons os momentos melhores que encontraras para te superares e regressares a ti mesma.
Não te dou nenhuma novidade, porque na verdade tu sabes isso desde muito cedo mas o medo do incómodo foi maior e bloqueou a consciência da importância desses momentos para te amares.
Faz-me um favor, ri mais, brinca mais, ama mais, chora mais, entrega-te mais, permite-te receber mais, diz os disparates que te apetecer daqui a 2 horas ninguém se lembrará, abraça mais, beija mais e por favor esquece que a tua vida é a vida dos outros. Tu és tu os outros são os outros; e se nesse caminho que tu estás a fazer de regresso a ti perderes algumas pessoas que eventualmente tu achavas importantes, aceita isso como um ganho porque na verdade não eram tão importantes assim.
Outro concelho (mas este é apenas um reforço porque já o fazes) agradece sempre tudo com o coração porque a gratidão também nos leva à recompensa.
Aqui sentada no meu alpendre neste fim de tarde rodeada por toda a esta natureza e na companhia dos meus animais estou feliz porque escolhi-me!
menina (a velhinha)

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