Tenho um baú; um baú só meu onde guardo o meu passado, vivo o meu presente e onde construo o meu futuro; onde redesenho as minhas expectativas, as minhas esperanças, os meus sonhos e onde me dispo de superioridade e me reconheço nas minhas frustações, nas minhas satisfações, nas minhas necessidades, nas minhas carências, nos meus momentos, nos meus sentimentos, nas minhas lágrimas, nas minhas vergonhas, os meus preconceitos, na minha vida e tudo o que posso esperar dela.
Este baú é só meu e por isso ainda que eu partilhe com mais alguém alguma coisa que nele eu guarde, sei que ninguém o vai sentir como eu. é meu só meu e de mais ninguém. reforço esta ideia porque houve tempos que acreditava que aquilo que tinha ou vivia não me pertencia. Não me reconhecia como ser digno de ter seja o que fosse. mudei sem dúvida para melhor porque me permiti existir e logo não preciso de partilhar as minhas coisas para perceber que são minhas.
Ontem revisitei o meu baú e encontrei uma caixinha cor de rosa com riscas brancas; já não lembrava o que guardava por isso peguei nela junto ao meu peito e abria devagarinho; cairam-me algumas lágrimas e o silêncio tomou conta do meu espaço. esta caixinha discreta quase impreceptivel guardava a minha liberdade; tomei a decisão de a arrumar na caixa mais bonita que tinha porque tinha a certeza que um dia a iria reconhecer pela sua beleza. engano meu! o tempo e os compromissos regelaram o meu coração e a vida enganou o meu pensamento. sabia que um dia iria precisar dela mas não percebi quando. fui-me esquecedo dela e da sua importância.
Com a caixa aberta regressei aquilo que considero a minha essência. limpei o pó de fotografias de viagens bem divertidas com amigos, e folhiei histórias de saidas, namoros, partidas brincadeiras e gargalhadas inesqueciveis. liberdade; aquela coisa unica que nos faz sair da rotina, que nos permite escolher e decidir, que nos deixa saboear o gosto daquilo que somos como individuos e crescer.
Perguntei-me porque tive necessidade de a arrumar; e veio-o ao meu pensamento o dia e a hora que e tomei essa decisão; decidi livremente arrumar por uns tempos a minha liberdade por forma a dar espaço aquilo que achava conveniente e mais certo viver. escolhi...
mas as coisas boas do nosso baú é que podemos sempre regressar aquilo que fomos arrumando ao longo da vida e dar-lhes nova vida. escolhi guardar hoje escolho te-la de novo. sorriu...